Bem-vindo ao Submundo: Uma Recontagem Moderna de um Mito Grego
Tempo de leitura: 9 min

Sobre a História: Bem-vindo ao Submundo: Uma Recontagem Moderna de um Mito Grego é um Mito de greece ambientado no Contemporâneo. Este conto Dramático explora temas de Romance e é adequado para Adultos. Oferece Cultural perspectivas. Quando Perséfone desaparece no submundo iluminado por néons, Hades deve confrontar laços ancestrais e desejos modernos.
Introduction
As luzes de néon de Atenas piscavam como estrelas moribundas contra o mármore antigo. Persephone Maris ajeitou a gola de sua jaqueta de couro, cujas costuras eram rústicas como pedaços de madeira trazidos pelo mar e raspados pelo sal. Ela perseguira uma reportagem que prometia mito e escândalo, sem saber o quão rápido se pode entrar em águas profundas e encontrar abismos demasiado escuros para voltar atrás. Abaixo do nível da rua, o Underworld Club pulsava como uma besta viva, seu grave um batimento que se recusava a calar. Grafites de sementes de romã e vinhas espinhosas se enroscavam em torno das colunas, como se algum poder ancestral espreitasse das sombras.
O ar trazia o aroma de pedra aquecida pelo sol, com um toque de jasmim flutuando de um pátio acima. A ponta dos dedos dela roçou o mármore frio e envelhecido — uma textura tão lisa quanto vidro de rio. Um sino distante de igreja soou, sua badalada oca reverberando nos ossos. Ela respirou fundo e sentiu a carga elétrica da vida urbana — fagulhas modernas colidindo com ecos de antiguidade.
Ela segurava o convite como um talismã, uma única linha em grego impressa em dourado: “Welcome to the Underworld.” Um arrepio percorreu sua espinha, frio como um túmulo, e ela se perguntou se realmente colocara a mão no fogo — colocou a mão no fogo — ao ultrapassar aquele limiar. Ainda assim, seu pulso acelerou, a curiosidade era uma lanterna iluminando o caminho. Em algum ponto da escuridão esperava o próprio deus Hades — ou assim diziam os sussurros. E ela, uma jornalista mortal, logo descobriria se antigos juramentos ainda exerciam poder ou se o desejo moderno podia reescrever as regras da vida e da morte.
A Ticket to Tartarus
As pontas dos dedos de Persephone tremiam enquanto ela rasgava o envelope. O convite brilhava em letras em relevo, vermelho-romã contra um papel aveludado preto. Ela sentira o chamado semanas atrás: um boato sobre um lugar oculto onde o submundo se encontrava com o coração elétrico da cidade. Naquela noite, o boato ganharia forma. Setas de néon a guiaram por uma espiral de escadas pichadas, cada degrau ecoando como um tambor que convoca almas ao abismo.
Lá embaixo, o corredor se abria para um lounge cavernoso. Fumaça se retorcia no ar como serpentes vivas, e estroboscópios fragmentavam a escuridão em lascas de safira e sangue. O cheiro de ozônio pairava denso, misturado ao gosto amargo de café derramado com descuido. Ela encostou a palma da mão em um sensor em forma de romã invertida. Um chiado, um clique, e a porta se abriu.
Lá dentro, sombras dançavam sobre pisos de mosaico enraizados em geometria clássica. Figuras moviam-se como se estivessem submersas, membros flutuando ao ritmo de um grave tão profundo que fazia o peito dela vibrar. Um bar liso de obsidiana erguia-se como sentinela, e bartenders em ternos de carvão deslizavam bebidas pela superfície negra como a noite. O líquido brilhava em tons rubi, como se cada gole aproximasse o bebedor de um pacto antigo.

Feast of Shadows
Música e murmúrios entrelaçavam-se no salão adiante. Hades conduziu-a por entre mesas abarrotadas de iguarias decadentes: uvas que cintilavam como joias polidas, vinho que tremulava em cada porção. O aroma de cordeiro temperado e de pinhões torrados elevava-se para encontrá-la, um banquete digno de deuses e mortais. Pratos de figos melados e pão escuro convidavam à tentação; ela provou um pedaço e sentiu a promessa de prazer e condenação.
Sentada numa longa mesa de ébano, ela fitava Hades do outro lado, rodeada por velas cujas chamas tremulavam como espíritos inquietos. O sorriso dele era um crescente de meia-noite; quase podia ouvir o sussurro de romãs caindo num pomar invisível. A conversa corria — versos antigos recitados em gírias modernas, piadas quebrando o silêncio como pedra estilhaçada. De vez em quando, um silêncio varria os convidados, carregado de segredos que deveriam permanecer nas trevas.
Passos ecoaram: dançarinos em máscaras de alabastro, silenciosos como espectros. O chão grudava sob as botas dela, um resíduo de vinho derramado ou algo mais arcano. Ao tocar a mesa com a palma da mão, ela sentiu uma vibração — como se o próprio coração da terra pulsasse ali. Em algum ponto, um coro de vozes tênues entoava uma melodia sobrenatural, envolvendo-a como um véu de seda.

The Return of the Spring
Num aposento silencioso além da festa, jardins floresciam em poças cristalinas de luz. Estátuas de mármore escorriam musgo; jasmim e flor de laranjeira perfumavam o ar como promessas sussurradas. Persephone ajoelhou-se junto a um pequeno tanque de água, acariciando a superfície fria que tremia sob seus dedos. As ondulações refletiam seu rosto, emoldurado por sombras e traços de néon.
Hades observava-a, revelado pelo cintilar de vinhas fosforescentes. “Toda primavera deve ceder ao outono,” murmurou ele. Sua mão pairou sobre a água, palma aberta como se pressionasse uma parede invisível entre nossos mundos. “Mas algumas flores desafiam sua estação.”
Ela voltou-se para ele, com os olhos brilhando. “Você me ofereceu uma escolha,” disse, a voz suave como pétalas. Ele assentiu e aproximou-se; o cheiro do manto era terroso, como musgo molhado após a chuva. Ela lembrou-se dos campos onde brincava na infância — papoulas escarlate dançando sob um céu cerúleo. Mas ali, no reino dele, as flores brilhavam com luz interna, pétalas translúcidas como vitral.
Ele pousou uma semente de romã em sua palma. Ela cintilava como uma gota de sangue. “Uma mordida,” sussurrou, “e você pertencerá tanto ao meu mundo quanto ao dos vivos.” O gosto do fruto era de sal e mel, e ela prendeu a respiração num suspiro silencioso. Fechou as mãos em volta da semente enquanto um trovão distante retumbava pelos arcos de pedra.

Between Worlds
O limiar a chamava: um caminho subia em direção ao amanhecer dourado; o outro mergulhava no abraço de Hades, iluminado por flores fosforescentes. Ela sentia ainda o doce de cereja nos lábios, resquício da semente amaldiçoada. As paredes do corredor pulsavam com runas antigas e traços de grafite moderno — “Vida e Morte dançam eternamente.”
Seu celular vibrou com uma mensagem da superfície: “Estamos com saudades. Volta para casa.” Uma pontada de saudade, afiada como vidro estilhaçado, cravou-se em seu peito. Ela ergueu o olhar, encontrando Hades de perfil. Os olhos dele tinham a cor de mares noturnos, insondáveis e convidativos. Ele deu um passo à frente, voz quase num sussurro: “Você vai ficar? Ou partir?”
O tempo esticou-se, elástico como mel. Lá fora, ela quase podia ouvir o mar — as gaivotas, o ar salgado. Lá dentro, o submundo pulsava como um órgão sob a crosta terrestre. Sentia-se puxada, como a lua arrasta as marés, dilacerada entre duas margens.
“Ambos,” disse ela por fim, voz firme. Sua escolha não era exílio nem fuga, mas uma vida equilibrada na lâmina afiada das estações. Ele sorriu, agridoce como a polpa de romã. Ao redor, o reino suspirou aliviado, sombras amolecendo para acolher sua decisão.
Eles subiram de mãos dadas. A escada espiralava entre arcos cintilantes que alternavam mármore e néon. Cada degrau parecia mais leve, até que ela explodiu na luz do amanhecer. A cidade estendia-se diante dela — a antiga Acrópole coroada de ouro rosado, veias de asfalto pulsando com o tráfego.
Hades hesitou na boca da escadaria. “O mundo talvez não esteja pronto para nossa verdade,” murmurou.

Conclusion
O sol despontou sobre Atenas, banhando telhados e colunas de mármore em luz âmbar. Persephone surgiu, a jaqueta de couro aberta, revelando um delicado pingente em forma de romã. A seu lado, Hades aguardava em silêncio, o manto adornado com runas de prata antiga que refletiam o brilho da aurora. Uma brisa trouxe o cheiro de sal e cimento, misturando memória e promessa.
Ela se sentia inteira, não dividida entre a vida e a morte, mas renascida como ponte. Os vilarejos gregos logo voltariam a sussurrar sobre a deusa que dividia seu tempo entre dois mundos, as estações marcando sua partida e seu retorno. Primavera seguiria o inverno em perfeita cadência, e o desejo suavizado pelo ritmo constante do amor.
Jornalistas caçariam cada pista, céticos zombariam, mas Persephone carregava provas em seu sangue: o calor do sol e o abraço gelado do submundo, ambos dançando em suas veias. Ela ergueu o queixo, determinada. Nesta cidade antiga de deuses e concreto, escreveria novos versos com tinta moderna.
Hades ofereceu o braço. Ela entrelaçou o seu, mortal e rei chthônico forjando uma nova lenda. E caminharam rumo ao trânsito matinal, o brilho de néon do Underworld pulsando como um coração distante sob seus pés. À medida que desapareciam na multidão acordando, a cidade prendeu o fôlego, aguardando o desabrochar dessa história mais uma vez.