A Bruxa da Campainha do Alabama
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Sobre a História: A Bruxa da Campainha do Alabama é um Lenda de united-states ambientado no Século XIX. Este conto Dramático explora temas de O bem contra o mal e é adequado para Adultos. Oferece Divertido perspectivas. Uma lenda assustadora de um espírito inquieto assombrando uma fazenda remota no Alabama, nos últimos dias do século XIX.
Introdução
No coração do Condado de Wilcox, um silêncio absoluto envolveu a fazenda Bell enquanto o crepúsculo se estendia pelos campos de algodão. O ar parecia denso, quase palpável, como melaço gelado escorrendo entre as árvores. Uma lamparina solitária tremeluzia na ampla varanda, suas chamas dançando como vagalumes inquietos. Os moradores juravam ter visto sombras se movendo além dos pinheiros.
O velho Bell costumava murmurar sobre travessuras que iam além das brincadeiras infantis. Ferramentas desapareciam para depois ressoar no celeiro em horários estranhos. O cheiro de terra úmida subia a cada passo nos tábuas rangentes. A cada amanhecer, surgia uma nova evidência de risadas zombeteiras ecoando pelas vigas.
A Sra. Bell, sempre ansiosa, descrevia um cântico tênue que parecia tecido no silêncio da meia-noite. Um aroma leve de alecrim queimado escorria pelas frestas da porta, pairando como um perfume fantasmagórico. Sob essa fragrância, sentia-se uma vibração sutil no ar, como se o próprio tecido da realidade tremesse sob mãos invisíveis.
Alguns juravam ter sentido um dedo gelado roçando a bochecha, um toque que carregava o peso de séculos. O farfalhar das folhas secas lá fora soava como fofocas sussurradas por uma brisa sulista. E sempre, em algum lugar além da visão, uma forma dançava na beira do luar, prometendo que a Bruxa de Bell não descansaria até sua história ser inteiramente revelada.
À medida que as noites se alongavam, um temor inquieto envolvia cada alma no condado. Era como tentar agarrar neblina com as unhas: fugaz e impossível de dissipar. Alguns diziam que a Bruxa não estava de brincadeira – cruzá-la poderia ser tão imprudente quanto enfrentar uma cobra-cobre venenosa.
A Tempestade que se Forma
O Condado de Wilcox já não era estranho a histórias estranhas, mas o que acontecia na casa dos Bell ofuscava qualquer relato sussurrado de um vizinho a outro. As pessoas falavam de sombras tremeluzentes que perambulavam pelas paredes da sala depois que as lamparinas eram apagadas. Henry Bell, homem de porte robusto e comportamento tranquilo, tentava descartar os avisos como superstição. Ainda assim, cada vez que o vento trazia um silêncio sobrenatural pelos sulcos do algodão, sua testa se franzia com mais força.
Em uma tarde úmida, quando as cigarras zumbiam como um coro distante, uma batida forte sacudiu a porta da cozinha. Eram golpes de três, quatro pancadas, dedos gelados contra o pinho envelhecido. A Sra. Bell ficou imóvel, colheres de chá apertadas na palma da mão, como se buscasse coragem em instintos esquecidos. Não havia alma viva lá fora, mas as pancadas seguiam com determinação perturbadora.
Na sala mal iluminada, o cheiro de cedro úmido misturava-se ao odor acre das velas de sebo queimando. As tábuas sob os pés de Mary Bell escorregavam, como se guardassem um gelo oculto. Ela encostou-se à parede, o coração disparado como uma lebre assustada, enquanto o peso opressor do silêncio pressionava o peito. Parecia que até a madeira temia protestar.
Naquela noite, um zumbido baixo atravessou as vigas, estranho e dissonante, tecendo notas que se enroscavam nos ossos como arbustos espinhosos. As colchas das crianças se trançaram em nós, formando figuras que zombavam das orações da família. No quintal, o salgueiro arqueava-se em curvas impossíveis, seus galhos rangendo como os prods de um leviatã ancestral. O medo crescia denso como kudzu em campos abandonados.
Vizinhos chegaram guiados por lamparinas, rostos marcados pelo alarme. Afirmaram ter visto a sombra da Sra. Bell pairar na janela muito depois de ela ter voltado para o interior. Sussurros diziam que o espírito se regozijava em atormentar quem ousasse duvidar dele. Era uma reputação sombria, que se propagava mais rápido que fogo em capim seco.
Quando a meia-noite se aproximou, o vento uivava pelas venezianas quebradas, lembrando risada oca. A cada rajada, a chaminé gemia e exalava um suspiro oco, instando as almas tremulantes a fugir. Um lamento distante subia e caía, o pranto de alguém preso entre dois mundos. Ninguém ousava sair para investigar, hipnotizado pelo caos interior.
Henry resolveu ficar, acreditando que sua vontade firme poderia banir qualquer demônio. Ficou diante da lareira, palma da mão estendida, invocando fé e a memória dos sermões de seu falecido pai. O ambiente gelou por completo, cada suspiro transformando-se em nuvens de vapor que se dissipavam como suspiros de arrependimento. Ele apertou a espingarda surrada, o metal sibilando seu aviso no silêncio.
Minutos depois, penas voaram do forro do teto, dançando como pássaros assustados em vendaval. Mary gritou quando tufos de pluma caíram sobre seus ombros, fazendo sua pele formigar como seda de aranha. A lareira estalou, lançando fagulhas que tremeluziram loucamente nas paredes. Até o cão se encolheu debaixo da mesa, choramingando uma lamentação ansiosa.
A velha mesa de carvalho tremeu sob socos invisíveis, sua superfície envernizada ficando úmida e pegajosa. Talheres e pratos vibraram até cair com convicção solene. As pontas dos dedos de Mary roçaram a borda – geladas como gelo em contato com a pele. Ela olhou para Henry, cujo maxilar se contraía mais que ferro forjado.
Parentes se reuniram em conselho solene, pesando orações contra medidas práticas como sálvia ou sal. Uma tia jurou que um hino expulsaria a entidade para as sombras. Outra insistiu em riscar símbolos em cada batente. O debate degenerou em discórdia, e essa tensão só pareceu alimentar mais a travessura do espírito.
Quando a aurora surgiu, o pandemônio cessou tão abruptamente quanto um estalo de chicote. O silêncio reinou sobre a casa, quebrado apenas pelo tique-taque de um relógio de pêndulo. Na quietude, encontraram pegadas que iam do celeiro até o portão da frente, desaparecendo num ponto onde não havia portão algum. A terra ali estava remexida, como numa cova recém-aberta.
Rumores floresceram na praça da cidade, histórias passadas como um jarro de chá gelado em tarde escaldante. Diziam que a bruxa vestia seus medos como um vestido, rodopiando de prazer a cada novo grito. A resoluta determinação de Henry só se fortaleceu – ele prometeu erradicar a maldade até sua raiz. A família se preparou, certa de que dias ainda mais sombrios estavam por vir.

Sussurros nas Sombras
A noite caiu como uma cortina pesada de veludo, trazendo consigo os suspiros inquietos que assombravam a casa dos Bell. Mary Bell sentou-se junto à lareira, a luz da vela dançando em seus traços marcados pelas lágrimas. Cada sombra distorcida parecia sussurrar seu nome, incitando-a a espiar ângulos inalcançáveis. Ela sentia o peso de olhares invisíveis pressionando sua espinha.
Henry caminhava pelo corredor, botas ecoando sobre tábuas rangentes. Perguntava-se se sua teimosa negação não alimentava a vontade do espírito. As paredes pareciam se aproximar, como se a própria casa quisesse vê-lo sucumbir. Ele ergueu a lamparina, mas seu brilho esmorecia diante da risada silenciosa da Bruxa.
Na cozinha, um odor azedo ascendia do alçapão, lembrando leite estragado e grudando em caixas de madeira e pregos enferrujados. O ar tinha gosto ácido, levando Mary a inspirar com força. Parecia que a Bruxa se impregnara na própria estrutura, contaminando cada fresta. Eles trocaram olhares carregados de pavor, daquele que suga o calor dos ossos.
No andar de baixo, a sala de visitas jazia em ruínas: cadeiras tombadas, papel de parede rasgado em tiras irregulares. Henry passou o polegar pelos padrões florais esfarrapados, notando a textura áspera, recoberta por um pó fino de outro mundo. Constatou então quão frágil era seu universo, delicado como teia de aranha em vendaval. A Bruxa se divertia explorando essa fragilidade.
Um toque ritmado ecoou do poço lá fora, lento e deliberado. O pulso de Mary martelou como bigorna de ferreiro sob suas costelas. Ela abriu a porta, esperando escuridão e poeira, mas encontrou uma única rosa branca pousada no limiar. Suas pétalas reluziam como neve fresca sobre o barro – impossível e perturbador.
Um zumbido baixo começou a subir, igual a mil abelhas presas sob um vidro. Ele reverberou pelo chão, estalando louças na despensa e provocando um arrepio que percorreu a espinha de Henry. Cada batida de coração na casa ribombava em compasso com aquele zumbido, uma sinfonia sombria regida por maestro fantasma.
No romper do dia, descobriram marcas queimadas na lareira: símbolos que Mary reconheceu do grimório proibido de sua avó. As runas cintilavam fracamente, como brasas que se recusam a se apagar. Henry ajoelhou-se para examiná-las, sentindo um calor incômodo que escaldou seus dedos. Ele recuou o punho com um chiado, a pele avermelhada como em brasa.
A colcha da família, antes macia e reconfortante, jazia em farrapos no quarto das crianças. Seu tecido, outrora suave como brisa de verão, partia-se sob o toque de Mary, estalando como ossos velhos. Ela recolheu os retalhos – cada fragmento narrava uma história de invasão. Cada fibra carregava o eco da diversão cruel da Bruxa.
Os vizinhos se recusavam a chegar perto, murmurando que a casa dos Bell estava amaldiçoada, irremediavelmente danificada. Até pregadores itinerantes evitavam o lugar, temendo trocar um mal por outro. Ainda assim, alguns poucos apertavam terços entre dedos calejados, prometendo apoio inabalável à família. Essa solidariedade brilhava como farol na escuridão.
Para quebrar a maldição, Henry adquiriu um feixe de urtigas comuns e um punhado de sal – rituais herdados de antepassados escoceses-irlandeses. Traçou círculos no assoalho, linhas brancas que cintilavam à luz das tochas. O sal estalava sob os pés, cada grão um minúsculo obstáculo contra as trevas. Ainda assim, as sombras desdenhavam da barreira.
Naquela noite, uma voz oca emergiu das vigas: “Não me prenderão tão facilmente.” Ecoou pelos caibros, zombeteira, eriçando os pelos dos braços de Mary como pequenas sentinelas. Ela apertou a mão de Henry, unhas cravando-se em sua palma, expressão tomada pela força do medo. Ficaram unidos, embora o terror ameaçasse separá-los.
Quando a vela se consumiu, a esperança parecia tão rara quanto água fresca no deserto. Mesmo assim, Mary decidiu buscar respostas no antigo diário que encontrara sob tábuas soltas. As páginas falavam de uma mulher injustiçada, seu espírito retorcido pela traição e pelo luto. Quem sabe compreender aquela dor pudesse acalmar a ira da Bruxa, convertendo malícia em misericórdia. Era um plano moldado pela fé e pelo desespero.
Mary demorou nas linhas manchadas, a tinta espessa carregando décadas de angústia contida. Cada palavra parecia imbuída dos últimos suspiros da mulher, o sofrimento impregnado no papel como um último beijo de amante. Uma leve camada de verniz antigo tornava as folhas pegajosas, e Mary limpou o dedo na saia ao virar a página. O ambiente cheirava a mofo e arrependimento.
Henry leu em voz alta o último registro, voz trêmula porém firme: “Ele quebrou meu voto, e minha dor se fez carne.” As palavras vibraram pela casa em silêncio, prolongando-se mesmo após o eco desaparecer. Um silêncio tão completo se seguiu que Mary achou ouvir o farfalhar de lágrimas invisíveis. Entenderam, então, que para enfrentar a Bruxa precisariam primeiro encarar sua dor.

Confrontando a Bruxa
Quando o sol tingiu o horizonte, a família Bell reuniu a coragem para o acerto de contas final. O ar da manhã estava surpreendentemente frio, embora não houvesse brisa alguma. Henry ergueu a espingarda antiga e Mary apertou o diário surrado contra o corpo. Juntos, sentiam-se marchando rumo à toca de um fantasma, corações batendo como tambores de guerra.
Parentes aguardavam à beira do quintal, rostos pálidos e hesitantes. A tia Miribel murm ||ou bênçãos, apertando um rosário desgastado. Além deles, os galhos do salgueiro arqueavam-se sobre a entrada, lembrando mãos retorcidas prontas para agarrar viajantes desavisados. Cada detalhe exalava ameaça silenciosa.
Mary percebeu o cheiro persistente de madeira queimada, trazendo à lembrança fogueiras em Hayneville. A cinza recobria suas narinas, áspera como pó de lápide em decomposição. Piscar seus olhos doía, lembrando-a de quão intensa era a presença da Bruxa em cada aroma.
Henry subiu à varanda, deixando rastros de pegadas lamacentas sobre as tábuas rangentes. Cada marca parecia esticar-se, puxada por tentáculos invisíveis, antes de sumir na sombra. Ele ergueu a voz, recitando passagens do hinário com convicção feroz, palavras afiadas como tiros de mosquete. As paredes tremeram, relutantes em testemunhar.
Um trovão distante sacudiu as janelas, embora o céu permanecesse limpo. Alguém riu – a risada de criança ecoou dos forros, oca e zombeteira. O som cortou o silêncio como um chamamento de curiúva, gelando-lhes a espinha. Mary hesitou a meio verso, cada sílaba vacilando na garganta.
Ela apertou o diário contra o peito, a capa de couro úmida contra a blusa. Os sulcos do encadernamento pareciam protuberantes, cada saliência lembrando um passado carregado de tristeza. Fechou os olhos, lembrando a mulher cuja dor dera origem à maldição. Era um fardo que ela estava decidida a aliviar.
Das sombras, surgiu uma figura pálida como névoa, pingando malícia. A Bruxa de Bell, com formas quase humanas, deslizou na direção deles, ostentando um sorriso torto. Seus olhos brilhavam como carvões em brasa, prometendo vingança. Henry ergueu a espingarda, mas o dedo no gatilho tremeu.
“Quereis me quebrar?” – a voz do espírito rangeu, como pedras esmagando. Ela ergueu uma mão delicada, artelhos brancos de força sobrenatural. Um vendaval rugiu pelo quintal, levantando o cabelo de Mary num halo selvagem. O mundo oscilou, um caleidoscópio de medo e fé.
Mary avançou, voz firme como aço. “Conhecemos tua dor. Sabemos que foste injustiçada.” A Bruxa hesitou, inclinando a cabeça, como se saboreasse uma lembrança. Mary abriu o diário – as linhas brilhavam com a angústia e a traição daquela mulher. A verdade pairava entre eles, crua e exposta.
Um tremor percorreu a forma da Bruxa, rachaduras de luz surgindo em sua pele pálida. A risada sumiu, dando lugar a um soluço que lembrava galhos secos partindo. Henry abaixou a espingarda, juntando-se a Mary enquanto liam a última entrada em voz alta. Cada sílaba ressoava como bálsamo, cálida e curativa.
O ar suavizou-se; o frio opressor dissipou-se como neblina ao sol. O salgueiro lá fora soltou seu aperto, galhos alinhando-se como libertos. Na varanda, as pegadas se preencheram de terra fresca, apagando o último vestígio do passo da Bruxa. Seguiu-se um silêncio suave e livre.
Acima, um pombo estremeceu entre os galhos, piando num tom de paz. Mary fechou o diário, lágrimas reluzindo como gotas de orvalho nas páginas. Henry expirou, aliviado, sentindo algo se desenrolar no peito como uma canção de ninar esquecida. A fazenda reacendeu-se à vida, o ar perfumado de promessas.
Nos dias seguintes, circulou a história de que a maldição havia sido quebrada e os campos de algodão voltaram viçosos. Vizinhos regressaram para ajudar na colheita, trazendo cestos de batata-doce e milho fresco. Até a tia Miribel encantou o salgueiro com um cântico suave antes de colher suas flores. O riso retornou, suave como chuva de primavera.
Mas, à noite, se alguém se aproximasse do antigo poço, ainda poderia ouvir uma melodia tênue, levada por uma brisa quente demais para o verão. Uns dizem que é o espírito finalmente em paz, cantando para si enquanto vagueia livre. Outros afirmam que ela permanece, guardando a fazenda com ternura. Assim, a lenda perdura, lembrando que até as sombras mais densas podem ceder à compaixão.

Conclusão
No silêncio que se abateu sobre a casa dos Bell após a partida da Bruxa, a vida retomou um ritmo mais tranquilo. Vizinhos paravam nos portões para trocar acenos respeitosos em vez de olhares apreensivos. Os campos de algodão, antes mudos e melancólicos, agora ondulavam com leveza sob o olhar cálido do sol.
Um aroma doce de madressilva esvoaçava pelas janelas, inundando cada cômodo com suave esperança. Mary acariciava os tapetes trançados, ainda rústicos ao toque, mas reluzindo com novo propósito. Henry trocou os vidros quebrados das janelas, cada fresta guiando a luz do dia a cantos antes esquecidos.
Ao entardecer, a lamparina voltou a iluminar as noites sem o peso do temor. Risos de crianças ecoavam pelo quintal, seus brincadeiras soando como sinos jubilosos de igreja. As sombras ainda se formavam ao longo das cercas, mas desta vez pertenciam a seres vivos, não a vestígios de antiga tristeza.
E quando a noite desdobrava seu céu aveludado, um suave pio vinha dos galhos do salgueiro, doce como ninar de mãe. A família Bell escutava em reverência, sabendo que aquele cântico selava uma promessa cumprida. Na melodia, a Bruxa encontrou seu repouso, e os Bell, o poder curador da compreensão. Sua história permanece gravada no folclore do Alabama, testemunho de que a compaixão pode iluminar até a maldição mais sombria.