O Sonhador dos Sonhos e a Cobra: Um Conto Popular Antigo do Iraque

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O Sonhador dos Sonhos e a Cobra: Um Conto Popular Antigo do Iraque
Under warm twilight, Ibn Suraya interprets dreams by lantern light in his reed‑framed hut on ancient Mesopotamian canals.

Sobre a História: O Sonhador dos Sonhos e a Cobra: Um Conto Popular Antigo do Iraque é um Conto popular de iraq ambientado no Antigo. Este conto Descritivo explora temas de Sabedoria e é adequado para Todas as idades. Oferece Cultural perspectivas. Um jovem aldeão busca orientação de um reverenciado vidente quando uma serpente de seus sonhos o chama em direção ao seu destino.

Introdução

Sob um céu cor de cobre ao entardecer, os estreitos canais de Estshar reluziam como bronze derretido. Fumaça das tochas de palmeira‑dátil ondulava no ar vespertino, enquanto os juncos sussurravam a cada brisa. Em uma modesta cabana de barro à beira da água, Ibn Suraya, o venerado intérprete de sonhos da aldeia, sentava‑se de pernas cruzadas diante de uma baixa mesa de pedra. Lampiões de óleo tremeluziam em seu rosto sulcado pelo tempo, iluminando pergaminhos de símbolos ancestrais e tigelas de ervas prensadas.

Moradores entravam e saíam da cabana, oferecendo pequenos presentes de favo de mel e romã, todos buscando respostas para sonhos que persistiam até o amanhecer. Mas naquela noite havia mais do que o anseio por entes queridos perdidos; os sussurros falavam de uma serpente — esguia, de olhos verdes e sábia — que assombrava o sono de um jovem chamado Kamil. Diziam que a cobra trazia segredos do reino dos sonhos e que só Ibn Suraya poderia desvendar seu significado.

Além dos juncos, uma brisa fresca trazia aromas de lótus e lama, um perfume ancestral que pertencia ao berço da Mesopotâmia. Kamil aproximou‑se com passos tímidos, os ombros envoltos em um manto áspero de lã na cor do crepúsculo. Em seu olhar havia tanto medo quanto esperança. Os aldeões silenciaram‑se quando o rapaz se ajoelhou diante do divinador, as mãos trêmulas.

Ibn Suraya estendeu a mão firme. "Conte seu sonho, jovem", murmurou, com voz suave como a canção do pântano. E ali, sob as primeiras estrelas, Kamil começou a descrever uma visão que soava mais como memória — uma serpente pressionando escamas mornas contra seu braço, com uma voz surpreendentemente humana. O ar estremeceu de antecipação, pois naquelas palavras nascia a jornada que provaria coragem, revelaria verdades ocultas e ataria o destino do garoto a um antigo espírito de sabedoria.

1. A Visão Ominosa

A luz do luar filtrava‑se por biombos de junco trançado enquanto Kamil se acomodava numa esteira baixa em frente a Ibn Suraya. O cheiro de incenso enrolava‑se em finos fios pelo ar. À luz do lampião, as palmas de Kamil tremiam enquanto ele recontava as palavras da serpente: “Siga a chama da lanterna além da sombra do templo, pois a sabedoria espera sob o olhar do guardião.”

Ibn Suraya ouviu em silêncio, os dedos deslizando sobre um pergaminho de papiro gravado com serpentes entrelaçadas. “Os sonhos falam em enigmas”, disse ele, com voz firme. “A serpente traz conhecimento — e perigo. Ela testa o coração.” Ele traçou no ar o símbolo de serpentes entrelaçadas, murmurando uma incantação sob o fôlego. Pó dourado de uma semente triturada caiu como luz de estrela, rodopiando na claridade do lampião.

Kamil engoliu em seco. “Eu a sonho todas as noites. Seus olhos... eles sabem meu nome.” Ele fitou o olhar calmo do divinador, buscando algum consolo. “Ela me ameaça?”

O ancião tocou o pergaminho. “Nem toda serpente morde com veneno. Algumas oferecem o dom da visão. Mas o caminho que ela marca não é para corações fracos. Você deve viajar até o templo submerso de Namtar, lá nos pântanos do leste, onde a serpente de pedra vigia. Ali, a verdade que você busca será revelada.”

Um silêncio pairou sobre a cabana. Lá fora, os grilos entoavam um coro urgente. O coração de Kamil retumbava no peito. Diziam que o templo era assombrado por espíritos do velho mundo. “Eu irei”, sussurrou ele, a determinação tremendo sob o medo.

Ibn Suraya assentiu e ergueu‑se. “Ao amanhecer partiremos. Mas confie mais em seus sonhos e em seu coração do que em qualquer mapa. O conselho da serpente está em sua própria coragem.” Entregou a Kamil uma lanterna esguia, entalhada com pequenas serpentes. “Leve‑a consigo. Que sua chama o guie pela sombra e pela água.”

Naquela noite, Kamil apertou a lanterna junto ao corpo e dormiu na pequena alcova da cabana. Em sonhos, a serpente retornou, enlaçando‑se suavemente em seu braço. Sua voz estava agora mais suave: “Tenha fé, jovem buscador.” Quando a primeira luz do dia tocou os juncos, Kamil acordou com a resolução brilhando em seus olhos.

Um jovem segurando uma lanterna entalhada enquanto um ancião lê símbolos de cobras em um pergaminho.
Sob a luz quente da lâmpada, Kamil descreve sua visão de serpente enquanto o vidente decifra símbolos serpenteantes de sabedoria.

2. Jornada pelos Pântanos

Ao amanhecer, um céu tingido de rosa emoldurava os pântanos. Névoa agarrava‑se à superfície da água como um véu de seda. Ibn Suraya guiava um barco estreito esculpido em madeira de tamargueira, a proa deslizando entre folhas de lótus e juncos ondulantes. Kamil sentava‑se à sua frente, segurando a lanterna-serpente que tremeluzia com um calor interior. Cada remada do divinador provocava ondulações nas reflexões de palmeiras‑dátil e casas de tijolos de barro.

Enquanto avançavam, Ibn Suraya contava sobre antigos guardiões: espíritos da água que moldavam leitos de rios e zeladores de templos que gravavam segredos na pedra. “A serpente que você sonha pode ser um dos filhos de Nammu”, disse ele, a voz misturando‑se ao som da água. “Nos sonhos, ela chama aqueles prontos para aprender das profundezas.”

Passaram diante de uma dúzia de cabanas de junco sobre palafitas, com telhados de palha adornados por esculturas de argila em forma de peixes e pássaros. Pescadores lançavam redes de linho cor de areia, enquanto crianças corriam atrás de flores de lótus sobre as plataformas de madeira. O ar tremeluzia de calor e promessa de descobertas.

Ao meio‑dia, chegaram às ruínas de uma antiga estrada elevada, meio submersa. Estátuas de leões alados, estilhaçadas, permaneciam entre colunas quebradas. Ali, o canal estreitava‑se e a água ficava tão calma que refletia perfeitamente o céu. Kamil desceu sobre as pedras escorregadias, lanterna erguida, e seguiu o divinador até uma gravação desbotada de uma serpente enrolada ao contorno de uma lua crescente.

Ibn Suraya ajoelhou‑se e passou o dedo pelo relevo, erguendo poeira que rodopiava como pó de estrela. “O caminho se bifurca à frente”, disse. “Uma trilha atravessa um labirinto de juncos onde habitam ilusões, a outra segue pelas águas abertas sob o sol. Seu sonho ofereceu uma lanterna, não o sol. Escolhemos o labirinto, pois o que se oculta na sombra também pode ensinar.”

Ele levantou‑se e pisou numa passarela estreita coberta pelos juncos.

Kamil o seguiu, o coração acelerado a cada estalo dos juncos sob os pés. Cada ruído soava como sussurro. Ele lembrou‑se das palavras da serpente: “Confie na chama.” Ajustou o aperto na lanterna, alimentando o pavio até que seu brilho cortasse o verde‑dourado das paredes de juncos. Naquela luz, sentiu o labirinto revelar‑se — não como armadilha, mas como uma tapeçaria viva de caminhos ocultos.

Ao anoitecer, emergiram numa clareira onde flores de lótus incendiavam‑se como lanternas naturais. O sol afundava atrás de um pináculo de templo em ruínas, e a silhueta de pedra de uma serpente arqueava‑se sobre a entrada. Kamil expirou, sabendo que aquele era o limiar da toca da serpente e o coração de sua missão.

Barco deslizando através de pântanos enevoados ao amanhecer, passando por flores de lótus e cabanas de juncos
Um barco de tamarisco leva o adivinho e Kamil através de pântanos cintilantes em direção à entrada de um templo em ruínas sob a luz dourada da manhã.

3. Dentro da Toca da Serpente

As sombras tornaram‑se mais densas quando Kamil e Ibn Suraya adentraram a imensa boca do templo. O ar estava fresco, com toque de pedra úmida e incenso de lótus queimado há muito. A lanterna projetava feixes longos e trêmulos sobre paredes esculpidas com milhares de escamas de serpente, cada uma gravada com pequenos glifos de chuva, luar e palavras perdidas ao tempo.

O divinador deteve‑se ao lado de um ídolo em pedaços — uma serpente enrolada esculpida em alabastro. Seus orifícios vazios pareciam observá‑los. “Esta câmara foi erguida em honra à Serpente dos Sonhos das Águas Primitivas”, sussurrou Ibn Suraya, sua voz ecoando suavemente. “Ela habita onde o véu entre o sono e a vigília se afina.”

O pulso de Kamil acelerou. Na penumbra, ele quase pôde ver um ondular sobre as escamas de alabastro. Enrijeceu‑se na lanterna até que o bronze polido esquentasse em sua mão. Lembrou‑se da voz gentil da serpente em seu sonho e falou em voz alta: “Venho em busca de sabedoria, não de poder. Você deseja me ensinar?”

O silêncio caiu. Segundos esticaram‑se como eras. Então, de uma fenda profunda na parede, veio um suave sibilar. Uma serpente esguia, com escamas que cintilavam num verde luminoso, deslizou à vista. Seus olhos facetados refletiam a luz da lanterna. Enrolou‑se diante deles, ergueu a cabeça e falou sem mover os lábios.

“Kamil de Estshar”, disse ela, com voz como água corrente, “você carrega medo e esperança. O que procura está em conhecer a si mesmo.”

O jovem engoliu em seco. “Receio não ser mais que um escriba da vila. Sonho com um propósito maior, mas a dúvida acompanha cada passo.”

A língua da serpente provou o ar. “Então você deve beber das águas da verdade. Lave suas dúvidas na honestidade. Responda: você mantém a bondade no coração mesmo quando ninguém vê?” Seu olhar penetrava‑o.

Kamil fechou os olhos, recordando gestos de compaixão — ajudar a mãe a colher tâmaras ao amanhecer, confortar uma criança assustada no canal, compartilhar pão com um viajante cansado. “Sim”, murmurou.

A serpente desenrolou‑se, permitindo que a lanterna iluminasse seu corpo quase três metros de comprimento — um verde‑esmeralda luminoso. “Então você está pronto”, proclamou. “Pois a sabedoria é uma jornada, não um troféu. Avance e toque a pedra em forma de coração.”

Ela o guiou até um pequeno altar no centro da câmara.

Com Ibn Suraya ao lado, Kamil subiu os degraus trêmulo. No topo, havia uma bacia de pedra em forma de coração, ressequida como ossos. A serpente inclinou a cabeça, deixando dois anéis de seu corpo repousarem na borda da bacia. Gotas de água escorriam de nascentes ocultas, enchendo a bacia com clareza cristalina que refletia o rosto de Kamil.

“Olhe”, instou a serpente. “Veja que o medo é apenas sombra, e a esperança, sua chama guia. Leve esta verdade de volta ao mundo iluminado.”

Kamil bebeu a água fria. Cada gole tinha sabor de amanhecer, lótus e estrelas distantes. Sentiu leveza no peito, como se um peso fosse erguido de sua alma. Quando se levantou, a serpente inclinou a cabeça e deslizou de volta pela fenda, deixando um leve brilho verde nas paredes.

Serpente de esmeralda brilhante emergindo de uma câmara escura esculpida com escamas e glifos.
No santuário iluminado por tochas, uma serpente luminosa fala com Kamil e o adivinho entre antigas esculturas de escamas e símbolos de água.

4. A Revelação e o Retorno

Os primeiros raios do amanhecer filtraram‑se pelo teto desabado do templo quando Kamil e Ibn Suraya saíram, ainda ofuscados, à luz quente do dia. A chama da lanterna tremeluzia pela última vez; eles a apagaram delicadamente e a guardaram na sacola de Kamil. Em lugar do medo, o coração do jovem sentia‑se leve, repleto de propósito.

Retransitaram o caminho pelas clareiras salpicadas de lótus, pelas passarelas silenciosas e pelo labirinto de juncos. Em cada detalhe, o mundo parecia transformado: pétalas de lótus cobertas de orvalho brilhavam como pequenos sóis, e peixes saltavam em saudação onde antes a água jazia espelhada. Kamil maravilhava‑se como tudo agora surgia vívido, como se ele caminhasse pela primeira vez em cores plenas.

Ibn Suraya sorriu, o orgulho cintilando em seus olhos marcados. “Você bebeu da fonte de sua própria coragem”, disse. “Agora levará essa sabedoria de volta a Estshar. Talvez para compartilhá‑la em palavras, como escriba, ou quem sabe algo mais.”

Kamil assentiu. “Registrarei o conselho da serpente e preservarei sua memória para nossa gente. O medo não mais prenderá minha pena.”

Quando chegaram à aldeia, a luz do meio‑dia tingia as casas de um ocre quente. Crianças aglomeraram‑se ao redor do barco, a curiosidade iluminando os rostos. Mães erguiam bebês curiosos e pescadores detinham o trabalho em respeito solene ao divinador. A notícia da jornada de Kamil espalhara‑se rapidamente pelos juncos.

Ao pisar no familiar cais de madeira, Kamil olhou para trás e fez uma reverência humilde a Ibn Suraya. O divinador pousou a mão firme em seu ombro. “O maior sonho é viver de coração aberto”, disse ele. “Que suas palavras sejam lanternas para os outros.”

Naquela noite, à luz de lampiões e fogueiras, Kamil desenrolou pergaminhos novos e mergulhou a pena de junco na tinta. Escreveu sobre a sabedoria da serpente: as perguntas que provam coragem, o espelho das águas da verdade, a chama que afasta a sombra. Os aldeões reuniram‑se para ouvi‑lo ler em voz alta. Alguns choravam baixinho; outros assentiam em assombro silencioso. Todos sentiam o suave poder do conhecimento despertar dentro de si.

Quando a narrativa chegou ao fim, os corações permaneceram acesos, como se cada ouvinte carregasse sua própria pequena serpente de esperança. E muito além dos canais de Estshar, sob o mesmo céu cor de cobre, as lendas fincavam raízes — de um intérprete de sonhos e um rapaz que aprendeu que a verdadeira sabedoria nasce da coragem de conhecer a si mesmo.

Jovem e idoso saindo do templo enquanto a luz do amanhecer banha o lago de lótus e os juncos.
Ao amanhecer, Kamil e Ibn Suraya retornam à aldeia, com a lanterna guardada e os corações aquecidos por uma sabedoria recém-descoberta.

Conclusão

Nos dias que se seguiram, Estshar sentiu‑se transformada — não em suas construções ou canais, mas no coração de seu povo. As palavras escritas por Kamil circularam das cabanas ao mercado, pelas pontes de junco e sob as frondes das tamareiras.

Crianças sussurravam segredos de serpente ao amanhecer; os mais velhos faziam pausas em suas tarefas diárias para refletir sobre as perguntas que realmente importavam.

Ibn Suraya observava com silenciosa satisfação seu jovem discípulo tornar‑se escriba e contador de histórias. O intérprete de sonhos sabia que o verdadeiro poder não consistia em dobrar o destino, mas em guiar os outros a transformar seus medos em coragem.

Quando completou oitenta anos, a aldeia o homenageou com um banquete de doces de tâmara e vinho de romã. Mas seu maior presente — abrir a passagem entre o sono e a vigília — já havia sido semeado nas mãos gentis de Kamil.

Os anos passaram. Os rolos de Kamil viajaram a povoados distantes, onde estudiosos traduziam o conto para novas línguas e artistas pintavam a serpente luminosa em azulejos de barro. Embora ninguém tenha afirmado ter visto a Serpente dos Sonhos novamente, seus conselhos viviam. Sempre que o coração de um buscador hesitava diante da dúvida, recordava‑se do garoto que esvaziou seu medo na bacia da verdade.

Nessa lembrança, encontravam seu próprio reflexo a brilhar, como lanternas na noite. E assim a lenda do Intérprete dos Sonhos e da Serpente perdurou — uma antiga melodia embalada pelas brisas dos pântanos, convidando cada ouvinte a despertar para a sabedoria que dorme dentro de si.

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