Perseguição no Hotel Neils: Uma História de Fantasmas do Século XIX
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Sobre a História: Perseguição no Hotel Neils: Uma História de Fantasmas do Século XIX é um Ficção histórica de united-states ambientado no Século XIX. Este conto Dramático explora temas de O bem contra o mal e é adequado para Adultos. Oferece Divertido perspectivas. Uma presença espectral espreita pelos corredores de um hotel histórico nos Estados Unidos.
Introdução
O vento de inverno esvoaçava pelas ulmeiras em frente ao Neils Hotel, seu sopro estalando os vidros como unhas arranhando o cristal. No interior, o amplo saguão estava iluminado por uma única lamparina a óleo, com as paredes manchadas pelo sépia do tempo. Amelia Hart deteve-se na soleira—marca silenciosa de casamentos e despedidas, de fortunas e tragédias. Viera catalogar livros-caixa e cartas, não enfrentar sussurros na penumbra. Mas, ao fechar-se a porta com um rangido, sentiu um frio que não era apenas da corrente de ar.
Ela passou os dedos pela superfície polida do balcão de recepção e sentiu o leve odor de couro envelhecido—velhos livros de registro e lembranças guardadas em naftalina. Um gotejar distante ecoava por algum corredor, como um metrônomo a marcar um refrão fantasmagórico. Ajustou o xale sobre os ombros, sentindo a lã áspera arranhar o braço, e perguntou-se se não seria infantil imaginar uma presença espreitando além do alcance da vista.
Ainda assim, ela lera um boato local: um escriturário desaparecido há um século, engolido pelas paredes por alguma injustiça, que agora assombrava aqueles salões. Amelia não acreditava em aparições, mas sempre havia acreditado em erros sem reparação. Ao acender uma vela, cuja chama tremeluzia como se fosse apagar num vendaval, percebeu que tinha mais do que documentos para organizar. Havia aqui uma história que não se arquivava, uma alma inquieta à espera de redenção. Assim, munida de curiosidade e determinação obstinada, adentrou o Neils Hotel, sem saber que suas sombras já a observavam, atentas e implacáveis.
Sombras no Vestíbulo
Amelia avançou pelo vestíbulo como se fosse ela mesma um espectro, cada passo abafado pelo carpete gasto. O grande lustre, pendurado torto, fazia os cristais tremerem a cada sopro que escapava pelas janelas mal vedadas. Ela estendeu a mão para se apoiar em uma coluna de mármore, surpresa com o frio e a suavidade da pedra sob a palma. Atrás dela, o peso do silêncio caía como um manto, e ela quase esperava ver pegadas surgirem na poeira. O ar trazia um leve cheiro de madeira úmida e velas apagadas, como se alguém houvesse sussurrado uma última prece antes de se esvair na escuridão.
Examinou o livro de registro no balcão: as bordas das páginas adornadas por filigranas douradas. Nomes rabiscados em laços de tinta—aristocratas e andarilhos—cada entrada um suspiro de vida extinta. Uma linha, riscada com fúria, chamou sua atenção: E. Caldwell. A tinta parecia ter sido misturada com lágrimas. Ela aproximou o rosto, sentindo o relevo do papel áspero sob os dedos, e murmurou: “Caldwell... quem foi você?” Então um rangido oco soou atrás dela, como uma porta pesada se abrindo, e ela se virou. Nada além de sombra a saudá-la. Um silêncio tão denso que chegava a doer.
Por mais racional que quisesse ser, sentiu um formigamento na nuca, como se olhos invisíveis percorressem seus cabelos. Deslizou pelo salão, o vestido sussurrando contra o carpete. A lareira ao fundo estava fria, com as cinzas há muito revolvidas. Sobre a moldura, porém, um único par de luvas jazia, pálido como os ossos. Priorizou a delicadeza ao pegá-las; o couro rígido mal conservado coberto de poeira. Quase ouviu um suspiro, como se a luva implorasse por seu dono perdido. Tudo parecia sem sentido, e ainda assim ela sentiu o objeto tremer em suas mãos. A chama da lamparina vacilou, e no clarão trêmulo acreditou vislumbrar uma figura no canto—alguém revestido de trajes vitorianos, meio oculto pela penumbra. Ela piscou. Quando voltou a olhar, restavam apenas a luva e o silêncio das perguntas sem respostas.

Passos na Escadaria
A escadaria enrolava-se para o alto como a espinha de uma serpente, cada degrau polido até um brilho opaco. Amelia encostou a mão no corrimão, quente pelos séculos de toque humano, mas marcado por entalhes e riscos. Subiu, cada pisada ecoando, como se alguém marcasse o ritmo ao lado dela. Um gemido baixo escorreu pela escadaria, e o badalar distante de um relógio de pêndulo marcou uma hora que não existia. O cheiro de ferro aquecido e cera derretida pairava na penumbra, provocando seu olfato com a promessa de algo terrível.
No meio do caminho, fez uma pausa num patamar. O papel de parede ali estava descascando, revelando um damasco carmesim por baixo de um estampado floral gasto. Passou o dedo pela borda rasgada; o papel se desfazia como cinzas. De repente, ouviu passos suaves atrás de si—dois, três toques no assoalho—como alguém em pantufas finas seguindo sua subida. Virou-se num instante, o coração disparado, mas só encontrou o corredor vazio. A lanterna que carregava oscilou, projetando sua própria sombra, maior do que ela, com garras esticadas na parede.
Continuou a subir, ofegante a cada degrau. No topo, o corredor se estendia, ladeado por portas numeradas cujas plaquetas de bronze ofuscavam pouco. O quarto 13 parecia fitá-la, a porta entreaberta como um convite. Um ar viciado soprou por entre seus lábios, com aroma de pedra fria e perfume antigo. Aproximou o ouvido da fresta e ouviu um batimento cardíaco que não era o dela—um pulso lento ressoando nas tábuas. Um arrepio correu por sua espinha. Nem recuar nem avançar parecia opção, dividida entre a curiosidade e um medo ancestral. Com a mão trêmula, empurrou a porta um pouco mais e espiou na penumbra, onde a luz da vela dançava sobre uma chaise longue e uma cadeira de balanço vazia, imóveis como um monumento funerário.

A Suíte Proibida
A Suíte 13 ganhou muitos nomes—alguns sussurrados, outros guardados por juramento. Os moradores a conheciam como Sala Vazia, pois nenhum hóspede entrava ali sem sair diferente. O ar parecia espesso, como se as paredes exalassem décadas de segredos. Amelia hesitou na soleira, sentindo o assoalho protestar sob seu peso. A maçaneta de latão, em forma de coração atravessado por uma adaga, estava polida pelo toque constante, embora nunca houvesse sido batida. Ela a girou e entrou. Dentro, a suíte se estendia em um quarto amplo, com cortinas esvoaçantes como se suspirassem. A luz do dia ficava de fora; pesadas cortinas mantinham o ambiente em penumbra. Ela sentiu o cheiro de mármore frio e algo mais fétido—como podridão sob verniz.
Aproximou-se de um espelho com moldura dourada, encostado à parede oposta. O vidro, turvo e salpicado pelo tempo, devolvia seu rosto pálido. Mas nos cantos escuros jurou ver movimento—sombras que se agrupavam e se esticavam. As mãos tremeram ao passar pelos arabescos de um escrivaninha próxima à janela. Sobre ela, repousava uma folha de papel queimada nas bordas, a tinta manchada de vermelho, como se fosse sangue. Ajoelhou-se para ler: linhas de angústia diziam: “Imploro perdão pela crueldade sofrida. Liberem-me.” A caligrafia se desfez ao final, um rasgo vazio. As lágrimas lhe queimaram os olhos; jamais se sentira tão comovida. O quarto pareceu expirar, aliviado por ter seu peso reconhecido.
Um arrepio percorreu seus ossos quando passos se aproximaram atrás dela. Virou-se, abraçando o xale, e viu a aparição: um homem em sobretudo de linho, rosto pálido como luar, olhos cavados de dor. A forma tremeluzia como névoa, mas era sólida ao olhar dela. Quase podia sentir seu hálito áspero, ouvir o distante ulular de uma coruja lá fora. Ele apontou para a carta, e embora os lábios não se movessem, ela compreendeu o sussurro: “Libere-me.” O coração disparou—ela entendeu então que o hotel não o aprisionava; era ele quem mantinha o hotel cativo. Reunindo coragem como um escudo, jurou reparar aquela injustiça ancestral, fosse qual fosse o caminho árduo que a aguardava.

Revelação no Salão de Baile
O grandioso salão de baile ficava além de duas imponentes portas de carvalho entalhado, com dobradiças enferrujadas, mas firmes. Amelia as abriu com esforço, revelando um vão enorme, teto espelhado e um lustre pingando lágrimas de cristal. O luar atravessava vitrais, estilhaçando o chão de madeira em tons de joia. O aroma de vinho velho e pó contava histórias de inúmeros bailes agora silenciados. Ela entrou, cada passo retumbando como um sino fúnebre, e sentiu-se observada pelos retratos de figuras em trajes suntuosos, cujos olhos pareciam guardar altivez imortal.
Ao centro do salão, um chafariz de mármore permanecia seco, a bacia obstruída por pétalas caídas. Amelia subiu na borda, o coração pulsando, e desdobrou a carta chamuscada de seu xale. A mensagem do espírito fazia sentido: ele fora vítima de uma acusação forjada pelo fundador do hotel e enterrado vivo sob aquelas paredes. Sua sede de justiça converteu-se em raiva, e ele aprisionara a si mesmo—e ao edifício—num sono eterno. Ela leu em voz alta, tremendo: palavras de perdão e absolvição. O eco retornou, suave, como se as paredes a escutassem.
Um vento espectral levantou-lhe os cabelos e balançou as cortinas de tafetá. O lustre se agitava, cristal reluzindo numa melodia dissonante. À beira do chafariz, um vulto se formou, firme e etéreo. O fantasma de Edward Caldwell, agora sem ira, mas resoluto, avançou. A última gota do lustre se desprendeu, estilhaçando-se como uma chuva de estrelas. Ele ergueu a mão, e Amelia sentiu um calor brotar no peito—uma promessa cumprida. As rachaduras no papel de parede por trás dele brilharam por um instante, selando-se. Então, tão silencioso quanto surgira, desvaneceu-se, deixando o salão imerso numa quietude perfumada de água-rosas.
Amelia deixou-se cair num sofá de veludo, saboreando o silêncio que se seguiu. O hotel parecia mais leve, livre de um século de mágoas. Ela saiu para o corredor, onde a chama da lanterna queimava estável. As sombras já não se contorciam nas paredes. Compreendeu que nem toda assombração exige vingança—algumas pedem apenas justiça. Respirou fundo o ar frio da noite e desceu a escadaria, levando consigo uma história que finalmente descansaria ao lado de seu autor desaparecido.

Conclusão
Ao amanhecer, o Neils Hotel despertou renovado, seus salões livres de velhas querelas. Amelia emergiu na varanda, o farfalhar da cascalho congelado sob suas botas soando quase amigável. O aroma de pinheiros vindos da mata próxima se infiltrava, fresco e convidativo. No interior, as páginas dos registros permaneciam abertas, mas a tinta parecia mais leve, liberta do peso da vingança. Ela guardou a carta chamuscada em sua pasta, determinada a entregá-la aos descendentes do fundador e pôr o espírito em descanso.
Um leve rangido na porta fez-lhe olhar para trás. Por um instante, acreditou ver uma figura na primeira luz do dia—um educado aceno, um sorriso esvanecente. Depois, o corredor ficou vazio, mas o silêncio parecera mais gentil, como se o próprio edifício suspirasse aliviado. Inclinou-se, sentindo o tecido áspero do xale roçar a face, e seguiu adiante. O ar trazia o distante trinco de pássaros, o mundo sacudindo seus terrores noturnos como orvalho das pétalas.
Enquanto se afastava, o letreiro do hotel balançava suavemente sobre ela, letras agora reluzentes ao sol. Nunca mais viajantes sussurrariam sobre passos fantasmas ou olhos invisíveis; falarão de um lugar onde os erros se reparavam e o passado encontrava paz. Amelia parou no portão, esgueirando o dedo pelas curvas de ferro forjado, e sorriu. Até a mais tênue cor da tristeza pode ceder à luz da verdade, como pétalas que se abrem ao amanhecer. Com um último olhar, afastou-se do Neils Hotel e prosseguiu sua jornada, deixando para trás uma história enfim em descanso e um espírito, finalmente, livre.